henrique e os baobás .~*

Para meus irmãos Carlos Magno e Guilherme.
Obrigada por me darem de presente todos os dias o amor incondicional de vocês! 


Henrique hoje completava sete anos, mas desde que tinha três, já adorava o mundo dos livros. Sua irmã tinha o que se podia chamar de uma biblioteca em casa. Entre comprados, ganhados e trocados em sebos, tinha em seu acervo, cerca de 800 livros. Desde clássicos da literatura nacional, literatura estrangeira a uma prateleira menor, separados dos demais, os infanto-juvenis pelos quais nutria uma paixão especial.

Todos os dias, logo após o café da manhã, Henrique corria para o quarto de Ester, sua irmã. Seus dias seguiam sempre a mesma rotina: café da manhã, leitura, atividades escolares e, por fim, após o banho e um almoço feito com muito carinho pela sua mãe, se dirigia para a pequena escola da cidade onde morava.

Ao se sentar na mesinha, que Ester colocara em seu quarto especialmente para os momentos de leitura de Henrique, ele, que sempre estava ansioso momentos antes do início da leitura, já pegava o grande livro nas mãos e começava a apreciá-lo.

Quando tinha apenas três anos de idade, Ester lera para Henrique O Pequeno Príncipe pela primeira vez. Ficou encantada ao perceber como aquela história prendeu sua atenção. Ainda lembra até hoje de como ele sorria a cada parte da história e de como se emocionou ao ouvir de seu irmão de apenas três anos de idade que ser o pequeno príncipe não deveria ser ruim, porque ele conseguia fazer amigos fácil, fácil. Ester, que nesta época tinha uma versão clássica do livro, quando viu nas prateleiras da livraria do centro uma versão em pop-up deste livro tão incrível, não hesitou em compra-lo de presente para seu irmão.

Ao iniciar a história, Henrique, que já era todo sorrisos, pedia à irmã que imitasse o som dos carneiros, o que Ester sempre fazia, admirando a felicidade do irmão. Ester também modificava a voz de cada personagem, fazendo com que estes criassem vida e quase saltassem das páginas, como as imagens em três dimensões que surgiam a cada página virada do livro pop-up.

Ester havia modificado algumas coisas nos livros. Em cada imagem de carneiro, colou alguns pedaços de algodão. Nos pássaros, pequenas penas que encontrava no quintal da casa de sua avó. Nas imagens da serpente, colou lantejoulas, uma sobreposta a outra, o que deu um efeito incrível. Na rosa, com cuidado e dedicação de artista, colou pétalas secas de uma flor que havia ganhado há algum tempo de seu namorado e que havia guardado em um dos muitos livros que havia na sua biblioteca particular.

Mas o que Henrique gostava mesmo era das folhas do grande baobá que surgia imenso e majestoso na página 18! Passava longos minutos percorrendo os caminhos de cada folha seca colada por Ester naquela gigante árvore que se apresentava em sua frente todos os dias pela manhã. Sonhava um dia em subir em um baobá, mesmo tendo o Pequeno Príncipe alertado tanto pelo seu grande perigo! A parte do livro que falava dos baobás era a preferida de Henrique, sem dúvidas. Ele não acreditava muito no Pequeno Príncipe. Não aceitava a ideia de que uma árvore tão magnífica pudesse fazer tanto mal, pelo menos não no planeta Terra e, nesse momento, Henrique se sentia feliz por não morar no planeta B612, desta forma, poderia ter a chance de conviver em harmonia com os baobás.

Mais uma manhã de leitura se passou e infinitos outros dias, sempre pela manhã, Henrique voltava ao quarto de Ester e cumpria com sua rotina. O primeiro livro era sempre O Pequeno Príncipe, mas depois dele vinham outros, da Coleção Vagalume quando Henrique já tinha seus doze anos, Percy Jackson e os Olimpianos quando tinha quatorze, Crepúsculo, A Culpa é das Estrelas e a trilogia Jogos Vorazes e muitos outros quando tinha quinze e dezesseis anos. Mas nenhum desses livros se comparava ao seu favorito, que o fez se encantar pelo mundo da leitura, O Pequeno Príncipe era definitivamente o livro favorito de Henrique.

Quando Henrique fez dezessete anos, Ester, que muito havia pesquisado, queria fazer uma surpresa especial em homanagem ao anversário do seu irmão mais novo. Disse a ele que tinha um presente de aniversário, mas que, para ganhá-lo, deveria confiar inteiramente nela. Henrique não se cabia de ansiedade e excitação quando entrou num avião pela primeira vez. Ester se sentia mais que realizada. Ver Henrique feliz era motivo bastante para sua felicidade plena.

Ao aterrissarem, Henrique, que havia transformado seu sorriso ansioso para olhos arregalados de pavor e desespero durante o voo, retomou a tranquilidade. O voo foi rápido, mas esquisito, na definição dele. Pegaram um taxi e andaram por um longo caminho e Henrique, muito curioso, não parava de perguntar a Ester o que ela estava aprontando, mas ela não contou. Queria surpreender o irmão da melhor forma possível e, ao descerem do taxi, percorreram um longo caminho à pé, percorrendo ruas da cidade de Recife.

Contou a Henrique onde estavam, mas não o que ela estava prestes a mostrar ao irmão. Andaram por uma longa avenida, por onde passavam pessoas de todas as idades. Idosos, crianças, casais com seus animais de estimação. Alguns apressados, outros, tranquilos, perfeitamente à vontade àquele ambiente que Ester classificou como: intenso! Ester estava maravilhada com tudo aquilo. Como poderia existir um lugar assim, tão cheio de pessoas e ao mesmo tempo transmitir essa sensação de paz? Ela não sabia dizer, mas se morasse em Recife, certamente este seria seu lugar favorito, o Parque Capibaribe.

Enfim, chegaram ao destino. Ester deu as mãos ao seu irmão e o conduziu, com cuidado, pela grama até uma imensa árvore que se parecia mais com uma ilustração. Na verdade, era idêntica à ilustração do livro O Pequeno Príncipe. Um caule que tinha tranquilamente uns 15 metros de diâmetro e a altura! Ester nem sabia se aquela árvore poderia ser medida. Nunca tinha visto uma árvore tão imensa na vida! Os dois foram se aproximando da gigante árvore, responsável pelo nome do Jardim do Baobá, e Henrique, ao tocar a gigante raiz que se avantajava à sua frente, percebeu do que tratava o presente de Ester. Com os olhos marejados e a emoção à flor da pele, procurou pelas mãos da irmã, que o abraçou forte.

- O essencial é invisível aos olhos. – disse Henrique em meio às lágrimas que percorriam pelo seu rosto.

- A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar. – sussurrou a irmã, se emocionando mais uma vez ao perceber a felicidade do irmão.

Ali, debaixo daquele imenso baobá, passaram um dia inteiro. Riram, comeram os vários lanches que Ester havia preparado com tanta dedicação e, para não fugir da rotina, Ester leu para Henrique, mais uma vez, O Pequeno Príncipe. Mas desta vez ele não precisou reconhecer as imagens pelo tato, podia sentir a presença do majestoso e amedrontador baobá ali pertinho dele. 

Ester, durante todoos os anos, jamais teve preguiça de ler para seu irmão. Logo quando soube da notícia de que seu irmãozinho, aquele principezinho que ela via pela encubadora, provavelmente nunca seria capaz de enxergar a vida da mesma forma que ela, sabia que seria responsável por tornar sua vida mais alegre. Assumiu essa responsabilidade assim que viu o sorriso do seu irmão pela primeira vez, ainda no berçário do pequeno hospital da cidade onde moravam. Ester era a irmã por quem Henrique era mais apegado e ela seguiu sem pensar duas vezes o conselho do Pequeno Príncipe, que diz que "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Ela cativou seu irmãozinho e foi cativada por ele.

Ester cumpriu com seu destino. Passou a ser os olhos de Henrique e ele, em troca, transformou sua vida, tornando-a mais doce, serena e completa, dando-lhe de presente um dos maiores exemplos de amor verdadeiro que alguém pode ter na vida: o amor de irmão.


3 comentários

  1. Olá, Kelly.
    Que texto mais lindo do mundo. Já estava emocionada no desenrolar da história, mas quando chegou no final me desintegrei. Parabéns ficou muito lindo.

    Blog Prefácio

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  2. Nooooossa que lindo, me perdi enquanto lia imaginando as cenas!

    Muito Grata pela mensagem linda e pelas referencia envolvidas em lembranças!
    https://descomplicamundo.wordpress.com/

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  3. Que texto mais bonito, emocionante! Lindas palavras! O Pequeno Príncipe é amor demais!

    Beijoos!
    http://umaleitoravoraz.blogspot.com.br/

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Olá, queridos! Muito obrigada pela visita!

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