o amigo .~*

Para a Família Ribeiro
Em especial, ao Sr. Aparecido


O dia estava lindo. Mais um dia ensolarado. Férias, era disso que precisávamos, definitivamente. Nos acostumamos tanto com a rotina do dia-a-dia, que parecia um sonho tudo aquilo estar acontecendo. Essa foi nossa primeira viagem à praia. E eu não tenho palavras pra definir tamanha felicidade.

Entre guarda-sóis e tendas, fomos andando pela areia, procurando um espaço onde pudéssemos colocar nossas cadeiras. Crianças corriam em direção ao mar, algumas outras construíam castelos de areia branquinha, enquanto eram observados pelos seus pais. Idosos passeavam de mãos dadas, descalços, com a única preocupação de se protegerem do sol, que estava escaldante! Encontramos um lugar vago e nos sentamos de frente para o mar. Aquela imensidão azul de beleza inexplicável. Surreal. 

Com os pés sobre a areia branca e fina, sentia a água fria tocar meus dedos cada vez que ela se aproximava em pequenas ondas. O barulho do mar era capaz de bloquear qualquer outro som da praia. Olhei para o lado e vi meu filho mais velho admirando o mar. Senti uma onda de felicidade e realização que não consigo explicar em palavras. Acho que, no fim das contas, ser pai é isso, é não saber colocar em palavras o que o coração é capaz de sentir.

Me lembrei de tempos atrás, das dificuldades que passamos, da luta diária para conseguir alimentar e vestir meus filhos. Vislumbrei minha esposa. Mulher de fibra, esposa de verdade. Que sempre viveu por mim e pelos filhos. Que sempre esteve ao meu lado, na alegria e na tristeza, como juramos no dia do nossos casamento. É incrível como as pessoas de hoje em dia não dão mais valor às coisas simples. Vivem tão preocupadas em alimentar o próprio ego, ou afundadas em suas próprias frustrações, que se esquecem de aproveitar a melhor coisa da vida: a família.

Olhei novamente para o mar, meus netos sorriam enquanto pulavam as ondas que vinham ao seu encontro. Ao lado deles, minha esposa, meus filhos. Três gerações da minha família reunidas, felizes. Era tudo o que eu poderia querer. Sempre serei grato a Deus por isso.

Senti uma mão tocar meu ombro. "Vamos, está na hora." Acordei do meu breve devaneio. Olhei para o lado e percebi que já não via mais as crianças correndo pela areia. O barulho das ondas eu já não ouvia mais. Procurei pela minha esposa, meus filhos e netos, nada. Eu já não os enxergava. Me senti aflito. O homem que tocou meu ombro agora segurava minhas mãos. "Se acalme! Eles estão bem. E você também está!" E aquele homem, de vestes brancas, cabelos e barbas longas, sorriu pra mim. Um sorriso que acalenta, sorriso que abraça a alma.

E então percebi onde eu estava e quem estava ali me fazendo companhia. Não perguntei pela minha família, sabia que eu já não estava mais entre eles, mas isso não me deixou triste, pelo contrário, soube naquela breve lembrança do dia na praia que minha missão havia sido cumprida junto a eles. Eu estava bem. Eles estavam bem. E um dia, no tempo de Deus, estaríamos juntos novamente. E essa certeza aqueceu minha alma. Fomos então, eu e meu mais novo amigo. O nome dele? Acho que não preciso dizer, você já sabe quem é. 

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