O cheirinho de café fresco indicava que naquela casa existia vida, mostrava que ali existia amor.
Como pode um simples aroma significar tanto?
Ao acordar, abri as janelas do quarto. Tudo lá fora era tranquilo, calmo e inspirador. A paisagem era nostálgica. Tinha um quê de familiar naquilo tudo. As bananeiras, os pés de manga e acerola. O cantarolar dos pássaros que estavam sempre por ali, a bebericar da água doce no bebedouro, trocada todas as manhãs pela dona da pousada. Tudo era encantador!
Me virei de volta ao ambiente do quarto. Ele ainda estava dormindo, calmo e tranquilamente, como há tempos não dormia. A correria do dia-a-dia não o permitia mais esse luxo. Por um momento vislumbrei todo meu passado. Como eu poderia estar ali naquele momento? Parecia mentira. Uma cena de um filme antigo. Eu estava exatamente onde eu queria estar. Ali era o meu lugar.
Tomei uma ducha rápida. Não queria me atrasar para o café da manhã. Desci à copa, onde os mais diferentes tipos de guloseimas me aguardavam, acompanhados de uma senhora de meia idade, de cabelos presos em um coque frouxo. Seu longo vestido florido combinava perfeitamente com o ambiente ao redor. Serenidade deveria ser o nome dela, porque era o que transparecia pelos seus olhos acolhedores.
Fui recebida com um abraço forte e reconfortante, de quem parecia me conhecer há anos. Acho incrível como podem existir pessoas assim no mundo. Pessoas que, mesmo sem te conhecer direito, te acolhem com um abraço de mãe, de avó. Pessoas que nos trazem um sentimento único de paz e tranquilidade quando estão por perto. Pessoas realmente abençoadas.
Tão logo recebi o abraço, fui apresentada às mais diversas qualidades de bolos, geleias e derivados do leite. Bolo de cenoura com cobertura de chocolate, bolo de banana, caçarola de laranja, queijos e requeijões, todos divinamente expostos sobre uma extensa mesa com acomodação, tranquilamente, para umas 20 pessoas. Café, cappuccino, leite quente e chá de erva cidreira também estavam sobre a mesa, cuidadosamente preparados e colocados em bules de cerâmica lindamente decorados com desenhos de flores.
Toda aquela cena era tão surreal, que me perdi no tempo admirando aquela mesa de café da manhã, não notando que ele também já havia descido à copa, e me admirava, sorrindo. Sorri de volta. E nada mais precisou ser dito naquele momento. Tudo estava completo, o diálogo era irrisório numa cena em que havia tanto sentimento envolvido.
Neste dia eu descobri que eu não precisava mais de um café e um amor quentes.
Eu já tinha os dois. ❤️
* a senhorinha da pousada foi inspirada na minha avó, que até mesmo quem não conhece, ao vê-la pela primeira vez, se encanta! :) daquelas pessoas que te fazem sentir bem sem falar uma palavra, sabe, que só de se aproximar traz paz ao ambiente? é ela!