devaneio .~*


Lá estávamos nós. Eu não podia acreditar que estava ali. Depois de tudo que eu havia dito, de todas as minhas negativas. Era realmente inacreditável, mas, sim, lá estávamos nós.

Eu nunca fui de seguir meus instintos. Sempre consegui controlá-los muito bem. Mas de uns tempos pra cá isso tem se tornado mais difícil. Você tem a capacidade de tornar as coisas mais complicadas pra mim. Tumultua tudo.

E enquanto eu pensava mais uma vez no quanto isso tudo era errado, senti seus lábios nos meus. O toque já conhecido, o abraço forte onde eu me sentia segura. E então eu já não sabia mais no que pensar. Só queria que aquele momento durasse pra sempre.

Tem pessoas que foram feitas pra gente. Moldadas especialmente pra nós. Durante aquele que beijo que parecia durar horas, lembrei de todas as vezes em que a gente esteve junto. Das brincadeiras, das risadas e de como toda nossa história foi linda e intensa, apesar de como aconteceu.

E é realmente surpreendente que, mesmo após tantos anos, tudo permanece igual. As brincadeiras, a admiração, a amizade, acima de tudo.

Eu tinha tanto pra te falar. Tanta coisa eu queria que você soubesse. Mas não consegui dizer nada. Só conseguia sentir nossos corpos juntos e meu coração acelerado. Era ali que eu queria permanecer pra sempre.

Abri os olhos e procurei o seu olhar de volta.

Mas eu já não te sentia junto a mim. Não sentia mais seu cheiro, seu toque. Não sentia mais suas mãos, que percorreram pelo meu corpo com um desejo insano. Eu não sentia mais você comigo.

Mais uma vez sai do meu breve devaneio e voltei pra a realidade. E você não fazia parte dela.

Por enquanto é só isso que eu tenho.

Um devaneio. Uma imaginação infreável.


Carta de um Siqueira ausente


Vim contar a vocês uma história. Uma história real, que está acontecendo agora. É rapidinho, eu garanto!!

Era mais um dia de festa. A turma já tinha começado a chegar. De onde eu estava, conseguia ver todos que passavam pelo portão de entrada. Como era lindo ver todo mundo reunido novamente!

Olhei em volta e, em um dos cantos pude ver os mais velhos, avós, avôs, tios. Nossas referências. Símbolos de sabedoria e experiência. Alguns cantavam com entusiasmo. Outros sorriam, ao som de uma viola, que entoava as mais lindas modas caipiras. Alguns faziam versos ali, na hora, de improviso.

Do outro lado as crianças corriam, brincando, numa felicidade contagiante. Era nítido isso. Sabiam do amor que todos da família sentiam por elas. Isso transparecia no olhar de cada uma.

Com um sorriso involuntário no rosto, caminhei no sentido às mesas, que, como sempre, estavam fartas das mais diversas delícias da roça. Biscoito de goma, geleia de mocotó, paçoca de carne, pão caseiro, café quentinho. Era assim mesmo que sempre éramos recebidos, com muito amor e muita comida boa! Comida raiz, nostálgica.

Em um certo momento, olhei em volta e percebi alguns rostos muito surpresos e, por alguns segundos, talvez até tristes. Mas logo, logo, sorrisos da mais pura felicidade preencheram novamente os rostos de todos. Então, ao olhar em direção ao portão de entrada, percebi que algumas outras pessoas chegavam, pessoas que há muito eu não via, e corri pra abraçá-las e matar a saudade!

E a festa continuou no ritmo que todos já estavam acostumados. Muita cantoria, sorrisos, abraços, histórias sendo relembradas com grande nostalgia e, claro, muita comida boa! Assim era sempre a nossa Siqueirada, uma festa única, que, desde quando aconteceu pela primeira vez, conseguiu nos unir a cada dia mais como família.

E assim permanece até hoje. Seja com o pessoal lá de baixo, uma vez ao ano, nos feriados de Corpus Christi ou daqui cima, com nosso Pai, onde estamos agora. Não deixamos de nos reunir após nossa vinda pra cá. Estamos aqui todos juntos, felizes! Como sempre foi aí na terra! 

Desejamos que vocês, Siqueiras que estão aí agora, aproveitem bastante esse momento e continuem aí firmes, sempre unidos, em família! Esse é o nosso único desejo pra hoje! Até um dia!

Grande beijo!!

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